Há quem diga que terapeutas comportamentais não se aprofundam nas questões íntimas de cada ser; narrativas de que a terapia comportamental é “robotizada”, “rasa”, que só trata fobias em geral e que não considera a individualidade ou a subjetividade do ser humano também são bastante difundidas. Como Analista do Comportamento, posso afirmar que tudo não passa de “achismo” do senso comum. Na verdade, o terapeuta comportamental precisa se aprofundar na individualidade e subjetividade de seus pacientes para promover a tão procurada mudança de padrões comportamentais. Vale ressaltar, inclusive, que, em um determinado momento, esses padrões foram extremamente importantes em sua vida (uma vez que o comportamento é adaptativo) mas que, no contexto de vida atual do individuo, podem não fazer mais sentido ou estão causando prejuízo.
O que um terapeuta comportamental faz, então?
Primeiramente, precisamos entender que tudo que a gente faz é comportamento. Quando falamos, sonhamos, ouvimos, andamos, lembramos, pensamos, quando somos educados, mal educados, quando agimos com paciência, ou sem ela… tudo isso é se comportar. E todo comportamento ocorre dentro de algum contexto, não existe comportamento “isolado” ou acontecendo no “vácuo”. Sempre há uma relação entre o individuo e o ambiente que conseguirá explicar um comportamento. Dessa forma, quando paciente chega ao consultório e fala sobre si e suas dores, nós, analistas:
- Definimos o objetivo da terapia, feito de forma conjunta com a paciente, perguntando ou sugerindo o ponto de partida do processo terapêutico.
É como se o paciente chegasse como um quebra-cabeça desmontado, embaralhado. Enquanto terapeuta comportamental, o trabalho será montar esse quebra cabeça para entender todo o contexto do paciente, seus comportamentos atuais e passados e como eles ocorreram.
- Identificar o que mantém o comportamento-queixa e qual a função do comportamento no contexto de vida atual do paciente.
A pessoa que vai à terapia busca mudança comportamental. Os comportamentos que a atrapalham ou que – no momento – são um transtorno para o paciente tem uma razão de ser, uma vez que eles não ocorrem ‘‘do nada’’. O trabalho do analista comportamental é entender o porquê esses comportamentos estão ocorrendo e quais são as consequências que o mantém. Por exemplo, se uma pessoa come doce de forma compulsiva, esse comportamento tem uma função. Qual? Em que momento a pessoa come? É de manhã, à tarde, à noite? Em quais contextos isso mais ocorre? É quando está ansiosa, triste, com raiva? Quando come, o que sente? Alívio, culpa, os dois? As respostas para essas perguntas são fundamentais para que o analista entenda a dinâmica comportamental daquela pessoa.
- Estratégias de intervenção e variabilidade comportamental.
Uma vez que a dinâmica comportamental está clara para o analista, é hora de planejar intervenções para promover variabilidade comportamental e flexibilidade psicológica. Várias estratégias podem ser usadas aqui, desde aplicações de questionários, estratégias de mindfulness, exposição, metáforas, exercícios experienciais, entre outros. As técnicas de intervenção são definidas pelo analista e propostas ao paciente. - Avaliação das intervenções e alta do processo terapêutico
Depois que as intervenções são propostas e executadas, o paciente e o terapeuta vão avaliar se houve melhora da demanda inicial para que haja o espaçamento das sessões, que poderão passar a ocorrer com frequência quinzenal e, posteriormente, mensal, até finalizar todo o processo. É como um “desmame”, já que não é recomendado que o processo seja finalizado de uma hora para outra. Note que a terapia comportamental tem começo, meio e fim, ela não dura para sempre, como algumas pessoas pensam. Caso a pessoa queira voltar ou continuar o processo, ela pode? A reposta é: sim. O paciente pode voltar, mesmo depois da alta do processo para tratar de outros assuntos ou, simplesmente, pode decidir se aprofundar em outras demandas antes de entrar no processo de alta.
Nas palavras de Skinner, uma pessoa tem autoconhecimento de si quando consegue identificar quais são as variáveis que controlam seu comportamento. Em outras palavras, é responder à questão: o que é que eu faço e por que faço ? A resposta para essa questão é a chave para conseguirmos ter mais autocontrole, variabilidade comportamental e flexibilidade psicológica.
Lucas Assis
e-mail: [email protected] Mais informações no Instagram @lucasassis.psi
O conteúdo dos textos é de inteira responsabilidade do autor